Afinal de contas, por que Lula da Silva não vem a Santa Catarina? Um ano e meio transcorrido após sua posse e ele não pisou em solo catarinense.
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As últimas informações relacionadas ao cancelamento da agenda de sexta-feira passada em Itajaí convergiam para um suposto incômodo do inquilino do Planalto pela presença, 24 horas depois, do presidente argentino Javier Milei na sua primeira viagem ao Brasil, sem passar por Brasília. O hermano esteve em Balneário Camboriú, município limítrofe e a apenas 15 quilômetros de distância da cidade portuária.
Mas não teria sido só isso. Embora o Palácio Planalto tenha negado, havia preocupação, receio, de que o presidente pudesse não ser bem recebido. Quem sabe até hostilizado, apupado. Santa Catarina é um estado essencialmente conservador. As últimas duas eleições deixaram isso evidenciado nas votações de Jair Bolsonaro. Em 2022, o ex-presidente bateu a deidade vermelha por 70% a 30% dos votos.
Aqui, não
O PT, registre-se, nunca administrou Santa Catarina. Nem o PT nem nenhuma liderança de esquerda. Mas além do risco de que lideranças conservadoras pudessem vir de Balneário Camboriú e de repente criar uma situação constrangedora para Lula, haveria algo mais?
Rancor
Entrou em cena um outro componente, este político-partidário-eleitoral. Lula foi muito mal votado entre os catarinenses. Sim, Décio Lima, amigo, correligionário e compadre do ex-presidiário, foi para o segundo turno. Isso porque na sucessão de 2022 foram cinco candidaturas de centro e de centro-direita.
Raspando
Naquele cenário de pulverização com 17,42%, o petista conseguiu, por uma mínima vantagem, suplantar o então governador Carlos Moisés. Mas já foi para o segundo turno sabendo que ia perder. E perdeu feio.
Leitura
O desempenho de Décio foi mais feio do que o do próprio Lula da Silva. Certamente o líder vermelho tem informações bem assertivas. O presidente pode ter raciocinado na seguinte linha: Bom, eu vou para a reabertura do Porto de Itajaí, que teve seu funcionamento absolutamente comprometido há um ano e meio.
Segue o fio
Segue o possível pensamento lulista: Reabrindo para contêineres, eu vou poder ajudar os meus companheiros. Afinal de contas, é ano eleitoral, mas ali atrás eles me ajudaram muito pouco. Eu consegui apenas 30 por cento dos votos.
Dúvidas
E segue o guia supremo do lulopetismo: será que indo ao porto ou a SC eu vou conseguir retribuir esses 30%? Ou eu vou me queimar ainda mais em território catarinense?
Só marketing
Outro aspecto: a tal “reabertura do terminal itajaiense” para movimentação de contêineres, que é a vocação histórica do porto, recebeu um navio agora em julho. Foi como um teste. Dizem, que em agosto mais navios devem começar a atracar. Ou seja, além de tudo o que já registramos, a “reabertura” não passou de um experimento, de uma tentativa de retomada. A conferir os desdobramentos.
Representatividade
Partamos da premissa pré-eleitoral com vistas ao pleito de outubro. Entre os 15 maiores municípios catarinenses como Joinville, Florianópolis, Blumenau, São José, Criciúma, Tubarão, Balneário Camboriú, Brusque, Jaraguá do Sul, Lages, Palhoça, Itajaí e daí por diante, em qual deles o PT apresenta alguma perspectiva concreta e real de eleição?
Natimortas
O PT não se renovou, minguou, perdeu força no estado e apresenta aqui e acolá nomes que estão fora do circuito há muito tempo. As famosas bananeiras que já deram cacho. Nos únicos três municípios onde existe a possibilidade de segundo turno (Joinville, Florianópolis e Blumenau), petistas não têm qualquer chance. De ganhar no primeiro turno, então, chance zero.
Turno único
E nos demais, onde a eleição é decidida no primeiro turno? Mesma perspectiva. Não há nomes petistas com chances reais de vencerem o pleito. Essa realidade eleitoral municipal também pode ter feito Lula da Silva puxar o freio de arrumação.
Hummmm
Agora estão dizendo por aí que Lula vem no dia 2 de agosto para a inauguração do Contorno Viário da Grande Florianópolis. Será? Recomenda-se que petistas e esquerdistas aguardem sentados. Salvo engano, Lula da Silva não virá a Santa Catarina em 2024.
Calendário
Já há inclusive quem questione ou levante dúvidas sobre a possibilidade de ele marcar presença no estado durante seu mandato.
Jorginho Mello embarcou para Portugal embalado, fortalecido com o evento internacional do conservadorismo, abrilhantado por várias lideranças latino-americanas, com destaque para o presidente da Argentina, Javier Milei, e também o ex-presidente Jair Bolsonaro. O governador deitou e rolou.
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Até presenciou algo curioso. O PSD, que é o partido que nos bastidores faz oposição ao seu governo em Santa Catarina, muito mais do que o PT - por incrível que possa parecer. Os pessedistas acabaram empurrando vários candidatos ao Expocentro de BC para tentar pegar uma carona na popularidade de Jair Bolsonaro. A iniciativa bateu na trave.
Bolsonaro só fotografou, gravou e circulou com nomes liberais. A turma do PSD, contudo, como uma forma de consolação, acabou fazendo alguns flashes com dois dos filhos do presidente, Jair Renan, que vai ser candidato à Câmara de Vereadores; e o deputado federal por São Paulo, candidato ao Senado em 2026, Eduardo Bolsonaro, responsável pelo evento.
Manda Brasa
Na sequência, o chefe do Executivo estadual retornou a Florianópolis, e entregou o governo a quem? O deputado Mauro Nadal, presidente da Assembleia, emedebista de cruz na testa. Jorginho acabou escalando a sua vice para um compromisso internacional, no Uruguai, para entregar a administração estadual, mesmo que por apenas uma semana, a Mauro Nadal.
Entrelinhas
Uma clara sinalização de Jorginho Melo que deseja ter o MDB no projeto de reeleição daqui a dois anos. Além, evidentemente, de toda uma estratégia que passa pela divisão do mandato do futuro presidente na Assembleia Legislativa na sucessão de Mauro Nadal. A ideia é um ano para um emedebista e outro ano para um liberal.
Proa
O PL, nunca é demais lembrar, é pilotado no estado pelo próprio Jorginho. Agora, além do MDB, Jorginho Melo atua fortemente para ampliar o seu arco de alianças partidárias.
Guarda-chuva
O Republicanos, já está com o deputado federal Jorge Goetten, e Juca Mello, irmão do governador, de primeiro vice-presidente. Em relação ao Podemos, a conversação já foi deflagrada. A sigla inevitavelmente também virá para o controle de Jorginho Mello.
Fortalecimento
Até porque a presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, deseja um deputado federal por Santa Catarina. Esse nome tem tudo para ser o do deputado estadual Lucas Neves, ocupando espaço de Carmen Zanotto na Câmara Federal. Isso porque ela é favorita na corrida pela Prefeitura de Lages.
Composição
O Podemos deve indicar o vice de Carmen e ainda fica com espaço dela para 2026, com Neves trocando a Assembleia pela Câmara.
Quarteto
Além desses dois, e do MDB, que está encaminhado, com cinco posições no governo, com destaque para a poderosíssima Secretaria de Infraestrutura, hoje pilotada pelo deputado estadual licenciado Jerry Comper. Além do MDB, do Podemos e do Republicanos, o PRD, Partido da Renovação Democrática, resultado da fusão do Patriota com o PTB. Também já está no guarda-chuva do governador.
Laços
Não se pode descartar, ainda, o União Brasil, mais ali adiante, dentro desse arco que está sendo muito bem construído pelo governador catarinense. Até pela proximidade com Ronaldo Caiado.
Centrão
O União Brasil, é de conhecimento público, é um partido essencialmente fisiologista. Nasceu da fusão entre o PSL, que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República em 2018, com o Democratas. Por fim, ainda tem o Novo. Trata-se do partido do prefeito Adriano Silva, de Joinville, que tem tudo para se reeleger e que poderia vir a ser uma alternativa ao governo do Estado.
Distância
Ocorre que Romeu Zema, governador de Minas, e a principal estrela do partido, nunca esteve tão próximo da família Bolsonaro. Na Câmara, a principal liderança do Novo concentra-se na figura do deputado Marcel Van Hattem, gaúcho, que deve concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul. Muito provavelmente, apoiado pelo PL.
Chapa
No estado vizinho, PL e Novo podem fazer uma dobradinha de candidaturas ao Senado. Isso porque a prioridade é eleger uma maioria segura no Senado. Na Câmara, a coisa já está mais ou menos sob o controle da oposição. A tendência é preservá-la, ainda mais dentro do desastre administrativo que é o desgoverno Lula da Silva.
Locomotiva
E ainda tem a situação de São Paulo, estado pelo qual Eduardo Bolsonaro vai concorrer ao Senado. O filho 02 de Jair disputará pelo PL. Adivinhem qual é o outro candidato? Será indicado pelo Novo, partido ao qual acabou de se filiar o deputado federal Ricardo Salles. Ele estava no PL e migrou para o Novo. Foi ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro. Segue fiel ao ex-presidente.
Proximidade
Ou seja, teremos dobradinha do PL com o Novo em dois estados com enorme força econômica e tradição política.
Isolamento
Nessa toada, daqui a pouco Romeu Zema vira vice numa chapa do PL. E a candidatura eventual de Adriano ao governo do Estado? O Novo, que hoje recebe o apoio do PSD na disputa eleitoral em Joinville, pode terminar entrando na órbita PL. Ou seja, sobram o PSD isolado numa extremidade e o PT com as demais siglas à esquerda, na outra ponta.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.