A mídia nacional não deu a devida importância à filiação do ex-governador Ciro Gomes ao PSDB. Trata-se, na verdade, de um retorno do cearense ao ninho tucano - volta que tem as digitais do ex-senador Tasso Jereissati, seu amigo de longa data.
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Aliás, foi Tasso quem, após dois mandatos como governador do Ceará, o elegeu como sucessor. Ciro tem um histórico de problemas variados de relacionamento político: muitos atritos, conflitos, verdadeiras conflagrações públicas - inclusive com seu próprio irmão, hoje senador.
Ele deixa o PDT e retorna ao PSDB, que está caindo pelas tabelas, perdendo consistência dia após dia. Em São Paulo, Gilberto Kassab tratou de desidratá-lo, levando dezenas de prefeitos às fileiras do PSD.
Não custa lembrar que o PSDB nasceu no estado paulista a partir da defecção, em 1988, patrocinada por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e José Serra, diante do domínio de Orestes Quércia sobre o MDB.
Sinal
Ciro Gomes aproveitou o ato de filiação para acenar aos conservadores e, mais uma vez, acionou sua metralhadora giratória na direção do PT, do presidente Lula e do seu governo.
Mobilização
Ou seja, é mais um ator político, no contexto eleitoral de 2026, a se integrar ao movimento que busca colocar um ponto final no que considera ser um desgoverno marcado pela incompetência e pela corrupção — como avaliam críticos do terceiro mandato de Lula da Silva.
Contexto
É verdade que Ciro pode acabar virando candidato ao governo do Ceará. É uma alternativa interessante. O estado é o sétimo maior colégio eleitoral do país e, mais do que isso, está no miolo da região nordestina que Lula dominou na eleição de 2022, suplantando Bolsonaro nos nove estados.
Reflexos
Com Ciro como candidato, a configuração política pode mudar e irradiar para estados vizinhos, como Pernambuco, administrado pela hoje pessedista Raquel Lyra - eleita pelo PSDB.
Aglutinação
A volta de Ciro tem uma série de implicações e desdobramentos, mesmo que ele permaneça no Ceará. É um movimento com potencial para incorporar o PSDB a uma ampla coligação de partidos à direita.
Passado
O PSDB, que durante 20 anos rivalizou com o PT na disputa pela Presidência da República - de 1994 a 2014 - pode voltar ao protagonismo. Além disso, há a possibilidade de o próprio Ciro se transformar em candidato a vice, por exemplo, de Tarcísio de Freitas, abrindo uma perspectiva eleitoral extremamente favorável.
Metralhadora giratória
E com um detalhe que não pode ser desprezado: o cearense se encarregaria de disparar críticas à esquerda, ao PT, ao governo federal e ao próprio Lula, preservando Tarcísio de Freitas.
Respingos locais
Esse rearranjo, a partir do Ceará, pode ter reflexos em Santa Catarina. No ano que vem, o PSDB catarinense deve ficar apenas com o deputado estadual Marcos Vieira, presidente do partido. Geovania de Sá (federal) e Vicente Caropreso (estadual) estão batendo em retirada - ela vai para o Republicanos e ele para o União Brasil. Traduzindo: ainda que mínimo, o PSDB pode representar mais um reforço ao projeto de reeleição do governador Jorginho Mello.
Na coluna de ontem, discorremos sobre o isolamento a que foi submetido o prefeito de Chapecó, João Rodrigues. Registre-se que ele próprio buscou esse desfecho. Senão, vejamos: ele precipitou o processo sucessório, buscando, lá em meados do ano passado, se colocar como uma alternativa, na expectativa de que isso gerasse visibilidade.
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Afinal, enfrentaria um governador candidato à reeleição, que está na mídia e já disputou uma eleição majoritária ao Senado em 2018. Portanto, vai para a terceira corrida eleitoral estadualizada. João Rodrigues restringiu-se, até hoje, a quatro eleições majoritárias na cidade de Chapecó. Por mais que seja a capital do grande Oeste, tratam-se de eleições municipais.
Fora isso, foi deputado estadual e federal em eleições proporcionais. O fato de ele ter precipitado o processo fez com que o governador reagisse e buscasse composições que acabaram deixando João Rodrigues completamente ao relento. Qual partido está com ele?
Até aqui, nenhum. Nem mesmo o PSD, sigla do prefeito chapecoense, está inteiro em torno do seu projeto.
Dissidência
Citemos apenas dois nomes: o prefeito de Florianópolis, Topázio Silveira Neto, e o ex-deputado Paulinho Bornhausen.
Caminho
Sem falar em outros prefeitos, vice-prefeitos e lideranças que também poderão buscar adesão à reeleição de Jorginho Mello — vindos pelas mãos dos dois. Paulinho, inclusive, é secretário de Estado.
Histórico
Se fizermos uma retrospectiva de eleições em que o candidato foi sozinho para o pleito, é possível perceber que o resultado não foi nada alentador. Comecemos por 2018, quando Décio Lima teve sua primeira experiência como candidato ao governo de Santa Catarina.
Canhotos
Disputou, literalmente, sozinho com o PT. Nenhuma outra sigla de esquerda o acompanhou. Naquela eleição, PSOL, Rede e PSTU lançaram seus próprios candidatos. Décio Lima chegou em quarto lugar, mas não fez nem 13% dos votos — coincidentemente, o número do PT.
Pódio
Mauro Mariani, que ficou em terceiro, abriu mais de dez pontos de vantagem. Foram para o segundo turno Gelson Merisio, com 31%, e Carlos Moisés, com 29%. No segundo turno, Moisés teve uma vitória esmagadora.
Quarto lugar
Em 2022, o que tivemos? Gean Loureiro, que não estava isolado, foi cabeça de chapa pelo União Brasil. Renunciou à prefeitura da Capital e concorreu ao governo com apoio integral do PSD e do União Brasil, ambos fechados com Gean. O que aconteceu? Fez pouco mais de 13,5% dos votos.
Composição
E isso com um ex-governador de dois mandatos como candidato ao Senado, Raimundo Colombo, e Eron Giordani — uma extensão de João Rodrigues — como vice.
Na decisão
De que maneira João Rodrigues será candidato em 2026? Vejam que os percentuais de 2018 e 2022 ficaram próximos, com diferença de apenas um ponto percentual. Só que Décio Lima, na sua segunda disputa ao governo, em 2022, foi para o segundo turno.
Aperto
É verdade que venceu por uma pequena margem de Carlos Moisés, mas fez 17% e foi ao segundo turno, quando alcançou 28,5% dos votos. O que esperar de João Rodrigues neste cenário?
Risco
Dificilmente o pessedista conseguirá suplantar uma coligação das esquerdas. Até porque partidos satélites do PT devem repetir, em 2026, o que ocorreu em 2022 — especialmente diante de mais uma candidatura de Lula da Silva. A articulação nacional tende a impor essa unidade da esquerda, representando um risco real às pretensões de João Rodrigues.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.