O velho MDB de guerra, o Manda Brasa, voltou a dar o ar de sua graça. Indiscutivelmente, foi a concentração partidária mais significativa de Santa Catarina em 2025. Não apenas pelo número de presentes em Balneário Camboriú — aliás, expressivo, algo em torno de 6 mil pessoas — mas também pela representatividade dos que lá compareceram.
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É o MDB voltando a mostrar sua capilaridade e sua capacidade de mobilização, que são indiscutíveis. A legenda já não tem mais o maior número de prefeitos no estado — perdeu essa condição nas eleições municipais de 2024 para o PL. Ocorre, contudo, que nenhum partido em Santa Catarina está estruturado nos 295 municípios.
Aliás, nunca nenhum partido esteve organizado em todo o estado, exceto o MDB. Mesmo perdendo consistência e tamanho, ainda é aquele partido que reúne a militância mais aguerrida. Basta uma olhada no retrospecto: de 1982 pra cá, com o restabelecimento das eleições diretas para os governos estaduais, o MDB elegeu três governadores pelo voto direto — sendo Luiz Henrique por dois mandatos.
Experimentado
Estamos falando de 16 anos de controle da máquina administrativa catarinense. O MDB governou por praticamente metade do período em que o catarinense voltou a escolher seus mandatários para governá-lo.
Tampões
Também é preciso levar em conta os períodos de mandato-tampão, com Casildo Maldaner sucedendo Pedro Ivo Campos ao final da década de 1980, e Eduardo Pinho Moreira assumindo a proa ao final do primeiro mandato de Luiz Henrique e ao término do segundo de Raimundo Colombo.
Massa de votos
O pessedista, não custa lembrar, foi eleito e reeleito no primeiro turno com apoio vigoroso do MDB, numa articulação bancada e patrocinada por Luiz Henrique da Silveira. Raimundo Colombo, que no primeiro mandato era democrata, no segundo já estava nas fileiras do PSD — mas foi eleito com o MDB.
Vinculação
O lageano só obteve vitórias majoritárias quando agregado a um projeto liderado pelo MDB. Foi duas vezes governador, em 2010 e 2014, e senador em 2006. Depois disso, tentou duas vezes o Senado, em 2018 e 2022, e restou derrotado — o que demonstra claramente a capacidade eleitoral do MDB, que fez vários senadores por Santa Catarina.
Nominata
Luiz Henrique, Casildo Maldaner, Jaison Barreto, Evelásio Vieira (o primeiro de todos), Dário Berger, Nelson Wedekin, Dirceu Carneiro e daí por diante. Além disso, o partido elegeu outros senadores com seu apoio, como os tucanos Paulo Bauer e Leonel Pavan.
Valorização
A coluna faz esse retrospecto para mostrar por que Jorginho Mello marcou presença no evento, deixando claro que o MDB estará com ele. Porque é um partido importante.
Liderança
Vale ressaltar o papel desempenhado, indiscutivelmente, pelo deputado federal e atual secretário da Agricultura de Jorginho Mello, Carlos Chiodini — que também é o presidente da legenda. Na prática, ele arejou o partido, deu novo impulso e mostrou que o MDB continua relevante.
Sinalização
Mais do que isso, Jorginho Mello o trouxe para o centro do palco em dois momentos do seu discurso de cinco minutos, não deixando dúvidas de que Chiodini tem tudo para ser seu companheiro de chapa ao governo do estado.
Questão nacional
Muito embora o presidente nacional do partido, Baleia Rossi, tenha dito que a convenção é que vai definir o rumo do MDB nacional — se o partido vai com uma candidatura ao centro (ele próprio declarou apoio a Tarcísio de Freitas, do Republicanos) ou se vai indicar o vice de Lula da Silva.
Quarteto
Rossi avisou que tudo é possível — a convenção é que definirá. Mas não resta dúvida de que, tirando as famílias Barbalho, Sarney, Calheiros e a ministra do Planejamento de Lula, Simone Tebet, que querem estar com o PT, o restante do MDB deseja fazer oposição à recandidatura do atual presidente da República.
Centro-direita
A começar pelo ex-presidente Michel Temer, sempre atacado por Lula. Depois de dez anos na proa do Manda Brasa nacional, Temer fez de Baleia Rossi seu sucessor. Até porque, se eventualmente o MDB vier a ser o vice de Lula, a participação da sigla no estado — na chapa de Jorginho Mello — pode ficar comprometida.
É sui generis a realidade política de Santa Catarina no contexto conservador: de um lado, uma candidatura repleta de apoios e aliados partidários; de outro, uma candidatura isolada, que não conta nem mesmo com o apoio integral do próprio partido. Refiro-me, respectivamente, a Jorginho Mello e João Rodrigues.
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Ocorre que o prefeito de Chapecó está observando o quadro com atenção. Porque a grande verdade é que o padrinho eleitoral de Jorginho criou dificuldades para ele.
O governador já estava com a chapa fechada: o MDB indicaria o vice no projeto de reeleição, e o PL ocuparia a segunda posição na majoritária, com Carol De Toni ao Senado, dobrando com Esperidião Amin, da federação União Progressista. A partir do momento em que Bolsonaro, goela abaixo, impôs o filho Carluxo, as coisas começaram a se complicar.
Na quarta-feira passada
Os dois se encontraram. Carluxo estava presente. Vazaram, para o distinto público, duas versões do extrato da conversa. A primeira foi a que interessa a Jorginho: Bolsonaro teria assegurado apoio também ao nome indicado por ele ao Senado — ou seja, Esperidião Amin.
Com ela
A outra versão dá conta de que o ex-presidente teria dito que vai apoiar Carol De Toni, mesmo fora da chapa liderada pelo governador. Ora, prevalecendo essa segunda alternativa, Bolsonaro está praticamente humilhando seu correligionário. Na prática, quem vai colocar o nome de Esperidião Amin na convenção é o governador.
Bolsonaristas
Mas quem garante que o atual senador vai topar, sabendo que Bolsonaro não vai respaldá-lo? Além de Carluxo, que é filho, Carol De Toni tem todo um histórico bolsonarista. A ligação de Esperidião Amin é exclusivamente com a figura de Bolsonaro. E aí, como é que fica? Numa dessas, Amin pode ir ao Senado com João Rodrigues e levar a União Progressista junto. Possibilidade que não está descartada, evidentemente.
Condicionante
Nessa realidade, o PL pode lançar Carol e Carluxo na chapa de Jorginho. A grande verdade, para que não paire um sentimento de desconfiança entre os aliados, é que Carol não pode concorrer ao Senado — mesmo fora da chapa.
Avulsa
Por outro lado, não há mecanismo político, e muito menos legal, que a impeça de lançar seu nome por outro partido. Ela tem o direito, na janela de março do ano que vem, de trocar de legenda e concorrer à Câmara Alta. Para evitar essa situação, a única maneira seria acolher os três nomes na majoritária. Carol, então, teria que ser vice — cenário que Jorginho Mello já descartou.
Sem chance
Já há quem especule que ela poderia assinar ficha no MDB. Por óbvio, no entanto, o Manda Brasa não vai aceitar. Vai filiar Carol, sabendo que depois ela volta para o PL, apenas para resolver o problema dos liberais? Aliás, o MDB está promovendo uma grande mobilização estadual de fortalecimento da sigla neste fim de semana. E, até segunda ordem, o MDB ainda não se tornou um partido de aluguel.
Outro caminho
Evidentemente que os líderes emedebistas não topariam essa solução com Carol De Toni no partido para ser vice. Outra possibilidade é que, uma vez fechada a composição, ficando Amin ao Senado e Carol como vice, isso poderia levar o MDB para o lado de João Rodrigues.
Tempo de TV
Ou seja, confirmada a candidatura de Carluxo, ou o MDB, ou a União Progressista estarão com João Rodrigues. A União Progressista tem dois minutos e meio de televisão. O MDB tem menos.
Pendência
Até porque a União Progressista é resultado da federação que deve ser formalizada no mês que vem entre União Brasil e PP. Ressalve-se que o casamento entre UB e PP ainda não foi oficializado. Muita água ainda vai rolar, mas é fato: o nome de Carluxo criou um sério problema para Jorginho Mello.
Resumo
A chegada do vereador carioca pode estar viabilizando a candidatura de João Rodrigues — até então caquética — na medida em que a União Progressista ou o MDB acabam recorrendo a uma aliança com o prefeito de Chapecó, caso um deles seja excluído da composição liderada pelo governador.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.