De repente, não mais do que de repente, a deputada estadual Ana Campagnolo (PL) concede entrevista a uma rádio de São Bento do Sul, na última sexta-feira, fazendo restrições à candidatura de Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina. Disse que o conservadorismo estadual dispõe de alternativas, que não iria apoiá-lo e que a chapa tinha que ser 100% catarinense.
Ela fez uma postagem nessa direção, com reação quase imediata de Carluxo, daquele jeito que todos conhecem — ao melhor estilo de um verdadeiro macaco em uma loja de cristais.
Saiu acusando a parlamentar de mentirosa e com baixarias. A deputada reagiu, afirmando que sua posição é firme e cristalina, que sempre esteve com Bolsonaro. Porém, não concorda com sua vinda para Santa Catarina, até porque está tirando do páreo, na vaga do PL, a deputada federal Carol De Toni.
Liberou
No domingo, Jorginho Mello foi a Xanxerê, à residência de Carol De Toni, para uma visita, quando deixou claro que a vaga ao Senado pelo PL é de Carluxo e que ela ficaria liberada para buscar outro partido e lançar sua candidatura ao Senado.
Nitroglicerina
Isso, evidentemente, pode provocar uma fratura exposta no PL, na medida em que Carol De Toni, depois de Jorginho Mello, é a principal liderança, e Ana Campagnolo é a terceira. Simples assim. As duas são recordistas da disputa proporcional de 2022: Ana fez quase 200 mil votos e Carol quase 250 mil.
Seguidores
Esse racha pode levar prefeitos e vereadores a seguirem a deputada federal, caso ela saia mesmo do PL, na direção de outra legenda. É uma situação absolutamente inconveniente para o partido, que já estava todo montado.
Desarticulou
Mas a imposição do nome de Carlos Bolsonaro desarrumou a articulação majoritária: vice do MDB; segunda vaga ao Senado para a União Progressista, possivelmente com o atual senador Esperidião Amin; e a vaga liberal para Carol.
Nebuloso
A chegada de Carluxo embolou o cenário. O governador não pode abrir mão dos outros dois partidos na sua composição, com o tempo de televisão e tudo mais.
Estratégia?
Ou, eventualmente, isso tudo não faz parte de um entendimento para que o ambiente fique carregado e Carluxo não consiga viabilizar sua candidatura. Poderia até viabilizar em convenção, mas correndo risco eleitoral, porque a pré-campanha nem começou e o bombardeio contra ele já é pesado.
Pressão
Entidades empresariais, estaduais, regionais e municipais já se manifestaram contra e vão voltar à carga. Evidentemente, começarão a surgir vulnerabilidades de alguém que tem 25 anos como vereador no Rio de Janeiro. Situações, aliás, já exploradas no contexto de rachadinhas e por aí vai.
Incógnita
Ou seja, isso pode levá-lo, quem sabe, a refletir sobre a conveniência de manter esse projeto em Santa Catarina. O filho 02 de Jair está vindo para cá acreditando que é fatura liquidada. E, se não for, já se pode debitar na conta da repercussão das críticas e contestações em curso, contaminando o ambiente eleitoral a ponto de inviabilizar uma eleição.
Respingos
E o pior: pode atrapalhar também a própria performance, o desempenho do partido como um todo na disputa pelo governo e talvez até na eleição à Câmara e à Assembleia.
É líquido e certo que toda essa confusão vai chegar a Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL. Jair Bolsonaro está incomunicável, mas recebe visitas. Agora, o clima e o ambiente não são nada favoráveis ao desembarque de Carluxo em Santa Catarina.
Repercutiu intensamente, durante o final de semana, no meio político de Santa Catarina, a corajosa, pertinente e valorosa manifestação da deputada estadual Ana Campagnolo (PL). O que ela disse? Ela afirmou que “nosso estado tem força própria e nomes capazes de representar o conservadorismo no Senado”, sem depender de figuras de fora.
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Ela defendeu senadores 100% catarinenses. É um posicionamento emblemático. Se isso tivesse partido de qualquer outro parlamentar liberal, o reflexo já seria inapelável. Mas estamos falando de uma parlamentar que fez quase 200 mil votos à Assembleia na reeleição de 2022.
Campagnolo fez mais votos que todos os outros 15 deputados federais, exceção feita a Carol De Toni, sua amiga e correligionária. Mas Carol não bateu nos 250 mil, assim como Ana Campagnolo não bateu nos 200 mil votos. A votação da deputada estadual, no entanto, foi muito mais representativa do que a de Carol. Na Alesc, são 40 cadeiras e centenas de candidatos.
Proporção
Carol se elegeu a mais votada entre as 16 vagas catarinenses à Câmara. Ou seja, o número de candidatos a federal é infinitamente inferior. Então, se alguém, efetivamente, quisesse concorrer ao Senado, Campagnolo teria mais méritos do que a própria Carol. Mas não.
Projeto
O objetivo dela era continuar na Assembleia. É escritora, participa de cursos como professora, conferencista e palestrante. Além disso, por uma questão de programação familiar, ela não tinha pretensão de ir para Brasília, onde já está Carol, cumprindo o segundo mandato de federal. Tanto é que, desde o começo, Ana Campagnolo respaldou Carol, deixando claro que não seria candidata ao Senado.
Cenário
Só que agora, o que ela presencia? Carol esperneando, incomodada porque sua vaga ao Senado, na chapa liderada por Jorginho Mello, foi subtraída. A deputada federal erra o alvo, pois está a criticar única e exclusivamente o governador, que já havia lançado seu nome ao Senado, na companhia de Esperidião Amin, candidato à reeleição, numa dobradinha.
De cima
Ocorre que o governador reformulou seu posicionamento porque Jair Bolsonaro desarrumou a articulação daqui ao colocar, goela abaixo, Carluxo como candidato.
Intocável
Então Carol teria que estar reagindo mais fortemente a Bolsonaro. Mais ainda do que na direção de Jorginho Mello. Ao governador, registre-se, faltou, é bem verdade, a coragem que não está faltando à deputada estadual, que não aceita a vinda do vereador carioca.
Tudo tem limite
Jorginho deveria ter dado uma negativa ao ex-presidente, na linha de que se manteria fiel e companheiro, mas mantendo a posição de que a chapa majoritária liderada por ele já estava montada.
Alerta
O governador deveria ter deixado muito claro que não teria como trazer Carluxo pra cá. Aliás, situação que ele já vivenciou em 2022, quando precisou tirar o deputado estadual Kennedy Nunes, à época filiado ao PTB, da candidatura ao Senado, para colocar Jorge Seif.
Diálogo
Seif que é uma espécie de filho adotivo de Bolsonaro, o 06. Por falar em filho, com a chegada de Carluxo, são três dos seis por aqui.
Prole
Em Santa Catarina, Jair Renan, o 04, é vereador em Balneário Camboriú e candidato a deputado federal, ainda com a exigência do número 2222. Carluxo agora é nome para o Senado, e Seif é senador eleito em 2022.
Família
Os outros três: Flávio Bolsonaro é candidato à reeleição ao Senado pelo Rio; Eduardo Bolsonaro é deputado federal em São Paulo, mas está nos Estados Unidos e não sabe se será candidato ou não; fora estes cinco, há a única filha, a 05, Laura.
Pé aqui
Ou seja, metade dos filhos estão em território catarinense. Então faltou a Jorginho Mello o desprendimento e a firmeza que sobraram a Ratinho Júnior quando, assediado por Bolsonaro e já percebendo aonde ele queria chegar, avisou: você pode indicar um candidato ao Senado do Paraná, desde que seja paranaense.
Espelho
Faltou isso a Jorginho Mello porque, daqui a pouco, Carlos Bolsonaro disputa, se elege, e, a partir de 2027, dois dos três senadores de SC terão origem no Rio de Janeiro. Jorge Seif apenas nasceu aqui.
Manguinhas de fora
Ora, isso não tem o menor cabimento. E mais: se bobear, em 2030, Carluxo é candidato ao governo. Santa Catarina pode ser tudo, menos um estado de segunda classe. Muito ao contrário: é um estado que sempre marcou posição pela capacidade de discernimento político, de politização do seu eleitorado, que está sendo desrespeitado por esses movimentos da família Bolsonaro.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.