Ivone Fontanella viveu 54 anos de casamento com o craque Galego, um dos melhores pontas-direitas do Hercílio Luz
Ivone Fontanella - Foto: Joyce Santos/Revista Única Aos 82 anos, Ivone Fontanella abre o coração e revive a trajetória ao lado de Galego, o ponta-direita que encantou torcedores do Hercílio Luz e marcou sua vida dentro e fora dos gramados. Foram 54 anos de um amor verdadeiro, daqueles que parecem saídos de um roteiro de cinema.
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Em 1958, a jovem Ivone Maria Nunes Fontanella vivia a adolescência em Tubarão. Aos 15 anos, dividia os dias entre as aulas no Colégio São José e os encontros com amigas na Rua Coronel Colaço – a famosa “rua da igreja”.
Era também a época dos cinemas cheios, das sessões separadas por gênero e dos primeiros olhares tímidos. Foi nesse cenário que o destino entrou em campo. Dois novos jogadores haviam chegado ao Hercílio Luz, e um deles, conhecido como Galego, despertou a curiosidade das meninas.
“Assim que soube, falei às minhas amigas: ‘eu vou namorar o Galego’. Nem tinha visto ele ainda. Uma delas disse que talvez fosse casado, mas eu tinha certeza”, recorda Ivone, sorrindo.
O primeiro encontro aconteceu por acaso, apresentado por um amigo de seu pai. Pouco depois, o jogador criou coragem e a convidou para o cinema - convite que Ivone só aceitaria se fosse namoro. Galego não pensou duas vezes e a pediu em namoro ali mesmo. O sim foi o início de uma história que nunca mais se desfez.
Um amor discreto, mas profundo
Galego era reservado, daqueles que expressavam amor em gestos, não em palavras. “Ele não era de declarações públicas. Guardava os sentimentos para si”, conta Ivone.
Mas uma lembrança em especial a emociona até hoje. Durante uma entrevista à Rádio Santa Catarina, perguntaram ao ex-jogador se ainda era casado com a mesma esposa. “Ele respondeu que me conheceu no primeiro dia em Tubarão e que o que o prendeu foi a minha voz rouca e um sinal no rosto. Eu chorei ouvindo aquilo com as minhas filhas. Foi inesquecível.”
De Tubarão a Criciúma
Enquanto Ivone se formava professora, Galego conciliava o futebol com outros trabalhos - exigência do pai. Em 1963, o convite para o Metropol levou a família para Criciúma. “O clube era como uma grande família. Uma vez, Cacau Menezes me ligou pedindo depoimento e disse que o Metropol era o ‘Barcelona do Sul catarinense’”, lembra Ivone.
A vida na cidade trouxe estabilidade e muitas amizades. Mas anos depois, com mudanças na direção da carbonífera, Galego aceitou o convite do tio para administrar uma fazenda em Tubarão. O casal voltava à cidade onde tudo havia começado.
A professora e sua missão
De volta à Cidade Azul, Ivone reencontrou sua vocação. Ao visitar o Colégio Dehon para matricular a filha caçula, foi contratada no mesmo dia como professora de artes. “Foi transformador. Trabalhei com enorme dedicação até me aposentar, mas nunca quis me afastar dos alunos. Era uma troca maravilhosa”, conta, emocionada.
Coincidências que o tempo explica
A vida de Ivone e Galego foi marcada por histórias que parecem guiadas pelo destino. Anos antes, enquanto lecionava em Siderópolis, ela ajudou um aluno que sempre se atrasava porque cuidava da mãe doente. Permitiu que ele entrasse pela janela da sala, para não perder conteúdo.
Décadas depois, em São Paulo, quando o filho Ítalo enfrentava um grave acidente, Ivone encontrou novamente aquele ex-aluno - agora engenheiro — que passou a buscá-la todos os dias no hospital para distraí-la. “Foi como se a vida me devolvesse, em dobro, o cuidado que tive com ele no passado.”
O futebol e a despedida
Antes mesmo de conhecer Galego, o futebol já fazia parte da vida de Ivone, incentivada pelo pai. “Eu amava. Depois, quando o Galego não podia ir, assistia aos jogos com meus filhos. Até hoje tenho essa paixão”, revela.
Em 2014, veio a despedida inesperada. Galego sofreu um infarto fulminante. “Foi muito difícil aceitar. Tudo aconteceu de repente. Mas o tempo e a fé me ensinaram que ele partiu sem sofrimento. E isso me consola”, diz Ivone, com a serenidade de quem entende que o amor verdadeiro jamais termina.
“Nosso amor foi discreto, mas imenso. E continua vivo em cada lembrança”, resume Ivone — a protagonista de uma história de amor digna de cinema.
*Matéria publicada na edição de Setembro/Outubro de 2025 - Texto: Joyce Santos - Edição: Fabiano Bordignon.