Ivo Furlan resiste à modernidade e surpreende com a simplicidade de uma vida de prestação de serviços e busca pela saúde
Ivo Furlan - Foto: Joyce Santos/Revista Única Aos 75 anos, Ivo Furlan é o tradicional sapateiro de Capivari de Baixo. Sua história com calçados começou cedo, ainda adolescente, quando começou a fabricar sapatos com as próprias mãos. Mas outras paixões – algumas que conserva até hoje – também envolvem os pés. “Um médico me falou que a saúde começa pelos pés. Guardei essa frase, porque faz todo o sentido”, relembra.
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Fã de futebol, bicicleta e dança, ele encontrou nessas práticas o prazer de viver bem e se manter ativo ao longo da vida. “Gosto muito de futebol, joguei em vários times daqui. E na época em que fabricava calçados, também fazia chuteiras”, conta, citando os times Capivari, Vila Flor, Nativa e Santo André. Sua fala é simples e sincera. “Nunca joguei muito, só corria atrás da bola”, brinca.
Apesar da modéstia, Ivo se orgulha de ter dividido o campo com atletas conhecidos. “Poucos têm o que tive. Joguei com jogadores que disputaram Copa do Mundo. O Lúcio, lateral do Inter, e o Roberto Dinamite, que conheci num evento em Pedras Grandes”, aponta. Na foto, também está Bráulio, juiz da Fifa, além do ídolo do Vasco.
Coração exigiu mudanças
Mas um problema de saúde fez com que Ivo passasse a jogar com mais cautela. “Um dia, depois do jogo, me senti estranho, como se a pressão tivesse caído. Fui ao médico e o cardiologista me mandou direto para o centro cirúrgico, fazer um cateterismo”, recorda.
Após a recuperação e novos exames, Ivo retornou às quadras, evitando esforço excessivo. Mais tarde, ele teve de passar por outra cirurgia: fez quatro pontes de safena e uma mamária, após seguir recomendações médicas.
“Faz uns 15 anos. E é estranho lembrar que eu estava jogando e não sentia nada. Nem dor no peito, nem cansaço. Só meio irritado. Depois voltei a jogar. Até que levei ao cardiologista uma lista do que eu gostava de fazer, para saber o que ainda podia”, conta.
Foi então que veio a decisão de deixar os gramados. “Perguntei se podia caminhar, pedalar, dançar. Ele disse que sim. Mas quando perguntei do futebol, ele só me olhou. Entendi que precisava parar. Ele disse: o senhor já jogou bastante, né, seu Ivo? Eu tinha 70 anos. Preferi seguir o conselho dele”, relata.
No dia a dia da sapataria, Ivo se inspira nas fotos, troféus e medalhas que enfeitam o espaço em Capivari. “Às vezes sonho que estou jogando”, revela. Hoje, ele acompanha o esporte como torcedor, assistindo aos jogos locais e pela TV. Curiosamente, não tem um time do coração. “Gosto é de futebol. Claro que, quando tem dois times jogando, acabo torcendo um pouquinho para um deles”, diverte-se.
Trabalho, amor e fé
E assim ele leva sua rotina com a parceria da esposa, com quem teve dois filhos. “Ela é dona de casa. Cuida de tudo lá e cuida de mim também. Cuida muito bem, sem dúvida, cuida mesmo”, reforça. Com dieta balanceada e hábitos saudáveis, por causa do coração, Ivo conta com a ajuda da companheira também nos cuidados diários. Aos fins de semana, o casal sai para dançar. “Gostamos muito. Então quase todo final de semana a gente sai. Aqui mesmo em Capivari ou, às vezes, em Laguna. Eu mesmo dirijo”, garante.
Já são 54 anos de casamento. Para Ivo, uma união baseada em amizade. “Hoje somos mais amigos, cuidamos um do outro. E com as dificuldades da vida, a fé ajuda a superar tudo. Pago plano de saúde para manter nossa qualidade de vida. Por isso, mesmo aposentado há uns 30 anos, sigo trabalhando”, conta.
Mesmo com essa preocupação com o acesso à saúde, Ivo mantém sua forte disposição para o trabalho. “Não teve uma entidade aqui em Capivari de Baixo em que eu não atuei. Sempre ajudei em trabalhos voluntários, ajudando a organizar, sendo tesoureiro, por exemplo”, ressalta o sapateiro.
*Matéria publicada na edição de Setembro/Outubro de 2025 - Texto: Joyce Santos - Edição: Fabiano Bordignon.