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Histórias e conselhos do quase centenário Henry Oscar Brasil

O blumenauense que escolheu Tubarão para viver, esbanja amor à família e gratidão ao povo de Tubarão

Por Fabiano Bordignon
05/11/2023 - 15h05.Atualizada em 06/11/2023 - 10h04
Henry Oscar Brasil e a esposa Maria Conceição (Cece) - Foto: Revista Única/Arquivo

Em fevereiro de 2020, a reportagem da Revista Única contou a história do empresário Henry Oscar Brasil, que faleceu na madrugada deste domingo, 05 de novembro, aos 98 anos. Dono de um legado que marcou época em Tubarão, o texto publicado na edição impressa é reproduzido, na íntegra, a seguir.

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O encontro na recepção do prédio deu mostras do que viria pela frente. Seu Lindomar Tournier, que completa 98 anos em maio e entrevistado pela Revista Única em uma das últimas edições, aparece com uma sacola de supermercado e recebe bem a reportagem. 

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No elevador aparece o segundo morador mais velho do local. “Ele já tá velho”, brinca o farmacêutico, quando ouve que o empresário aposentado Henry Oscar Brasil concederia uma entrevista à equipe. 

Brincadeiras à parte, a história de ambos, que juntos possuem quase dois séculos de vida, contempla muita lucidez, uma trajetória recheada de boas lições e um legado de amor à família, aos amigos e à cidade que escolheram para viver. 

Tournier veio garoto para Tubarão. Já Henry Brasil constituiu família, casou, teve filhos e só depois veio para nunca mais sair da Cidade Azul. 

“É uma cidade muito boa. Quando meu irmão me ‘vendeu’ a ideia de me mudar pra cá, decidi fazer uma visita e a partir daí a mudança foi rápida”, relembra. 

Os tempos eram outros. O ano era 1957 e sair do Rio de Janeiro rumo ao Sul de Santa Catarina era tarefa difícil. “Demorou um tempão”, conta. Mas é preciso voltar às origens. Henry Oscar Brasil nasceu em Blumenau não por acaso. Familiares mais antigos vieram da Alemanha, mais precisamente de Hannover e de Berlim. 

O catarinense nasceu em 25 de outubro de 1925 e sua história se cruza com os primeiros passos de Tu- barão desde o início. José Brasil, o pai, foi um dos primeiros trabalhadores da estra- da de ferro de Blumenau.

Henry Brasil, com a família vivendo no local, passou a infância e a adolescência na região. Seu primeiro emprego foi em um município próximo. 

Na cidade de Rio do Sul, quando jovem começou sua jornada no mercado de trabalho, no ramo da madeira. Em 1948, decidiu deixar Santa Catarina rumo ao Rio de Janeiro. 

Uma boa oferta para gerenciar uma empresa do setor, em uma das maio- res cidades do país, encheu os seus olhos e não pensou duas vezes. 

A viagem foi longa. “Durou quase uma se- mana”, lembra. Começou de trem até Blumenau, seguiu de ônibus até Curi- tiba, depois um transporte conhecido como ‘limusine’, na época, até São Paulo e um novo trem até o Rio de Janeiro. A jornada durou nove anos. 

“Eu gerenciava a venda de madeira em Estados próximos, viajava bastante” conta, na sala do apartamento em que mora com a esposa, dona Maria da Conceição, de 87 anos.

A história deles iniciou em 1952, em Itajaí. Ele veio a trabalho para o município e conheceu a futura esposa. Eles casaram e pouco tempo depois ela foi para o Rio com o marido. Lá, tiveram os dois primeiros filhos. 

Hoje, são cinco, além de seis netos. “E tenho um bisneto encomendado”, brinca. O trabalho na antiga capital do Brasil durou até 1957. Por lá, alguns epi- sódios históricos foram vividos por Henry Brasil. 

Em que pese o empresário aposentado estar ausente do Rio quando o ex-presidente Getúlio Vargas tirou a própria vida, em 1954, as lembranças daqueles dias seguem vivas.

“Eu estava na Bahia no dia do suicídio. Lembro que quando voltei havia muitos comentários. A gente descobria mais nas conversas e ouvindo o rádio, a comunicação era assim”, recorda. 

Diferentemente do seu colega de prédio, ele não foi ao Maracanã à final da Copa do Mundo de 1950. “O Lindomar foi a testemunha do silêncio”, acentua.

“Decidi viver sempre aqui”

Henry Brasil chegou a Tubarão no ano de 1957. Junto com a esposa e os primeiros dois filhos, na época, decidiu confiar no irmão e conheceu a cidade. 

Nunca mais quis sair. “Decidi viver sempre aqui. Era uma cidade de interior tranquila e todos se conheciam”, afirma. Daquela época em diante, sempre empreendeu. Foi um dos grandes vendedores de cimento da cidade e não esquece da histórica ‘HBrasil’, um de seus negócios de maior sucesso. Durante muito tempo teve sua empresa no Centro, na Rua Rui Barbosa. 

“A empresa era no andar de baixo e a gente morava em cima”, conta. Desde aquele tempo, ele mostrou uma veia inovadora e conseguiu construir sua vida inovando e colocando Tubarão em destaque pela referência em produtos antes trazidos de muito longe, como materiais de escritório e até cofres, uma das atividades do idoso.

Em 74, perda de amigos e de produtos

Seu Henry Brasil não saiu de casa no dia 24 de março de 1974. Mesmo em uma área atingida pela grande enchente, decidiu ficar ali com a família, com o benefício de ter uma casa de dois andares.

Da residência onde morou viu muita coisa que guarda até hoje na memória. “As águas levaram boa parte dos meus produtos, como cimento. Foi um grande prejuízo”, lamenta. Infelizmente, o idoso também teve outras perdas no episódio. “Também perdi muitos amigos naquele dia”, recorda.

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