Anac apurou que 2,6 mil voos com aviões sem manutenção adequada foram realizados após tragédia em SP
Adriana Iba e sua filha Liz, em um registro amoroso - Foto: Arquivo Pessoal Após a tragédia com o avião da Voepass que matou 62 pessoas em Vinhedo, São Paulo, em agosto de 2024, a empresa aérea operou 2,6 mil voos com aviões sem manutenção adequada.
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A informação foi divulgada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em reunião que cassou em definitivo o Certificado de Operador Aéreo (COA) da Voepass na última terça-feira, 24 de junho.
Com a decisão da Anac, a companhia aérea fica impedida de realizar o transporte aéreo de passageiros, ou seja, de operar voos. Não há como recorrer contra a decisão. A cassação da operação já havia sido determinada em primeira instância, mas a empresa recorreu.
A vice-presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283 Voepass, a jornalista Adriana Ibba, perdeu sua filha Liz, de apenas três anos, na tragédia. A menina viajava com o pai que também é uma das vítimas da tragédia em Vinhedo.
Adriana falou com exclusividade à reportagem da Revista Única como a decisão definitiva sobre o impedimento da empresa em realizar novos voos com passageiros representa para ela e outros familiares das vítimas.
"Nós, enquanto familiares e enquanto associação, recebemos a notícia com um misto de sentimento. Lamentavelmente, no Brasil, precisa-se morrer pessoas inocentes para que a fiscalização tenha um reforço, ou eu diria nem reforço, para que a fiscalização seja de fato feita como deve ser em qualquer situação", lamenta.
Adriana completa. "Então, para nós, tardou essa fiscalização, porque se essa fiscalização tivesse acontecido e sido feita da maneira adequada antes, minha filha hoje estaria aqui, tardou. Mas em contrapartida evitou novos acidentes aéreos tão trágicos como foi aquele do dia 9 de agosto do ano passado".
A jornalista ressalta que quando a Anac iniciou a fiscalização houve a constatação que a empresa Passaredo, administradora da Voepass, havia adotado um padrão de descumprimento sistemático de não realização de inspeções obrigatórias em sete aeronaves da frota.
"Mesmo depois da tragédia que vitimou 62 pessoas, a Passaredo fez 2.687 voos sem a manutenção adequada, segundo os dados apurados pela Anac. Ou seja, além de matar as 62 pessoas em Vinhedo, eles colocaram milhares de vidas em risco", afirma.
Para a vice-presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283 outro dado assutador são as diversas denúncias realizadas desde 2016 sobre os riscos.
"A impressão que se tem é que as pessoas envolvidas, que atuavam na empresa, sabiam desses riscos, das condições que a empresa adotava. E nós consumidores não fazíamos ideia disso. Achávamos que nossos familiares estavam fazendo uso do meio de transporte mais seguro do mundo", conclui.
Adriana morou alguns anos em Tubarão e trabalhou na assessoria de comunicação da Câmara de Veredores de Capivari de Baixo.