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Geração TikTok: perdemos a paciência ou a capacidade de pensar?

Por Fernando Pitt
03/03/2025 - 15h01

Você já tentou sugerir para alguém da nova geração assistir O Senhor dos Anéis? Três horas de filme? Esquece. “Muito longo.” E 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)? Nem pensar. “O quê? Duas horas e meia de cenas lentas e longos momentos sem diálogos? Tô fora.”

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O que torna isso ainda mais irônico é que 2001 foi um dos primeiros filmes a prever algo que hoje é um dos assuntos mais comentados: a ascensão da inteligência artificial.

No filme, HAL 9000, um supercomputador, assume o controle da missão espacial e decide eliminar os astronautas, provando que as máquinas podem se voltar contra os humanos.

Um tema extremamente atual, mas que não interessa a uma geração que mal tem paciência para um vídeo de 15 segundos.

O problema é que essa impaciência não se limita ao entretenimento. Ela invadiu a sala de aula. E até as relações pessoais.

Professores de todas as áreas relatam a mesma dificuldade: os alunos não conseguem ler textos mais longos. Pulam trechos, se perdem no enunciado e, quando chega a hora de resolver o exercício, erram porque simplesmente não entenderam a pergunta.

E não é falta de capacidade – é falta de paciência. Tenho exemplos disso em casa, com meus próprios filhos. A Geração TikTok quer tudo rápido, dinâmico e direto ao ponto. Mas o mundo real não funciona assim.

A questão é simples: como aprender algo novo sem se dar o tempo necessário para processar a informação?

Exemplo real: muitos alunos hoje sequer identificam o comando da questão porque não leem até o final. Se uma prova pede: “Explique o motivo pelo qual...”, alguns entregam apenas uma palavra ou frase solta, como se bastasse. Mas sem interpretar o comando, como dar a resposta esperada?

Outro exemplo: em matemática, enunciados um pouco mais complexos são um verdadeiro terror. Se o problema tem mais de três linhas, a maioria já quer desistir antes mesmo de tentar entender.

Isso significa que a educação precisa mudar. Não adianta apenas cobrar mais leitura e interpretação, é preciso entender essa nova forma de consumo de informação e adaptar o ensino sem perder a profundidade.

A boa notícia? A tecnologia pode ajudar. Se foi ela que acelerou essa impaciência, também pode ser usada para reverter o quadro.

IAs já estão nos ajudando a elaborar resumos inteligentes, sem perder o essencial, a criar tutorias interativas e até mesmo a desenvolver aprendizado mais significativo.

Mas aí mora um novo problema: as IAs são excelentes ferramentas para nos ajudar a estudar, e não para trazer respostas prontas, como muitos as estão consumindo.

Porque se dermos todo o controle a elas, quem sabe no futuro o prognóstico de um “HAL 9000” pode se tornar realidade – assim como em 2001: Uma Odisseia no Espaço.

Estamos vivendo um tempo de desafios hercúleos. Teorias não faltam sobre como lidar com essa nova realidade, mas, na prática, ainda não estamos conseguindo reverter o quadro.

E isso nos leva à reflexão: se essa dificuldade em manter o foco continuar, como será quando essa geração precisar enfrentar desafios reais? Tomar decisões complexas? Trabalhar em projetos de longo prazo?

Fernando Pitt

Educação & Tecnologia

Engenheiro, professor e entusiasta da tecnologia. Oferece acompanhamento escolar, aulas particulares, preparação para vestibulares e concursos, além de cursos e treinamentos personalizados. Você pode ler outros conteúdos em www.fernandopitt.com.br.

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