Há um ponto que a direita brasileira ainda não foi capaz de encarar com maturidade. A eleição passada não foi vencida por Lula, foi entregue pelo time do então presidente Bolsonaro. E a derrota não veio apenas das urnas, mas dos próprios erros cometidos dentro do campo conservador.
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Na reta final da campanha, vimos cenas que afastaram eleitores moderados e deram munição à esquerda. Aliados do então presidente protagonizaram episódios graves, como o caso da ex-deputada Carla Zambelli, que saiu armada pelas ruas apontando uma arma para civis.
O ex-deputado federal, Roberto Jefferson, foi além, atirando contra policiais em uma cena que chocou o país. Esses fatos não foram isolados — eles evidenciaram falta de controle, de estratégia e de responsabilidade política.
O próprio Bolsonaro, que apesar de sempre ter governado dentro das quatro linhas da Constituição, acabou se perdendo em falas durante o seu governo. A política, goste-se ou não exige sangue frio. Quando se perde isso, as urnas não perdoam.
Com olhar à próxima disputa, um nome vinha sendo visto como o mais competitivo da direita. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reúne apoio do mercado financeiro, simpatia do centrão e respeito de uma parcela relevante do eleitorado conservador. É o projeto mais viável para enfrentar a esquerda com chances reais.
Mas a direita foi, mais uma vez, surpreendida. A insistência do entorno do bolsonarismo em empurrar um dos filhos do ex-presidente, Flávio Bolsonaro, mostrou que a ideia de renovação é muito mais discurso do que prática. A tentativa de transformar o movimento em um projeto familiar é um erro estratégico gigantesco.
Isso passa uma mensagem clara de que a direita parece disposta a entregar a eleição de novo. Não por força de Lula, mas por fraqueza própria.
Se Lula se mantiver como candidato — e tudo indica que será — ele entrará na disputa em um cenário viável. Não porque seja imbatível, mas porque o outro lado não consegue se organizar. Falta união.
Bolsonaro teve seus méritos. Elegeu uma bancada forte, puxou nomes importantes, fortaleceu o PL. Mas nenhum país sério constrói futuro com base em dinastias políticas. O Brasil não precisa de famílias se perpetuando no poder, precisa de instituições fortes e lideranças com visão de Estado.
Enquanto a direita insistir em personalismo, em sobrenomes e em brigas internas, continuará perdendo. E não será por mérito do adversário. Será por culpa própria. Porque a política, no fim das contas, não perdoa amadorismo.
Vivemos em um mundo que parece cada vez mais moldado por filtros — não apenas os das câmeras, mas os da própria alma. As redes sociais se transformaram em vitrines de uma felicidade encenada, onde o amor é declarado em posts públicos, mas silenciado na intimidade dos quartos.
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Casais que mal se conversam à noite se exaltam durante o dia, como se a validação externa pudesse compensar o vazio interno. Criamos um retrato virtual de uma vida perfeita que, na prática, raramente existe.
O que vemos é teatro onde a peça é protagonizada por sorrisos ensaiados, corpos expostos, viagens coreografadas, frases prontas sobre gratidão e plenitude. Tudo muito bonito. Tudo muito falso.
Obviamente que há exceções, contudo, a fantasia virou moeda social, e quem não participa desse jogo corre o risco de se sentir invisível e fracassado. O problema é que não é o mundo real que está nos adoecendo, mas a comparação constante com um roteiro que ninguém vive de verdade.
E enquanto a vida vira espetáculo, a política vira torcida organizada. De um lado, a revolta gritante; do outro, o puxasaquismo cego. Não se discute ideias, apenas se defendem personagens. A realidade deixa de importar, substituída por narrativas que alimentam vaidades e pertencimentos.
Vivemos, assim, entre a realidade e a fantasia. Entre o que somos e o que fingimos ser. Um mundo onde a perfeição é obrigação pública e o caos é escondido no privado. Um mundo que se diz conectado, mas que nunca esteve tão vazio de verdade.
Um mundo “perfeito” — entre aspas — sustentado por ilusões, curtidas e aparências. E talvez o mais assustador seja perceber que, aos poucos, estamos começando a confundir o palco com a própria vida. Mas há uma situação verdadeira em tudo isso, indiferentemente, sorria, sempre, pois muitos alimentam a alegria com a sua tristeza.
Blog do Bordignon
Em 2004, colou grau em jornalismo pela Universidade do Sul de Santa Catarina. É editor da edição impressa da Revista Única e, dos portais, www.lerunica.com.br e www.portal49.com.br.