Depois a classe política reclama que o eleitorado brasileiro, o catarinense, não sabe escolher. Também pudera. Vamos pegar um caso específico. União Brasil.
:: Quer receber gratuitamente notícias por WhatsApp? Acesse aqui
Resultado da fusão do PSL, que elegeu Jair Bolsonaro presidente em 2018, com o Democratas, sucedâneo do PFL. União Brasil, que faz parte do governo Lula, pelas mãos do senador Davi Alcolumbre, ex-presidente do Senado, que antecedeu Rodrigo Pacheco, e que deve sucedê-lo. Um fisiologista de cruz na testa.
Davi Alcolumbre foi eleito pelas mãos do então ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, o gaúcho Onyx Lorenzoni. Era um ilustre desconhecido. Não pôde se reeleger, porque era na mesma legislatura.
Apoiou Rodrigo Pacheco, que pôde daí buscar uma recondução, e agora vai devolver para o padrinho Alcolumbre. União Brasil que é um partido de um viés essencialmente fisiológico. União Brasil, que teve candidato ao governo do Estado, em Santa Catarina, em 2022, com Gean Loureiro, apoiado pelo PSD, que indicou o vice, Eron Giordani, e para o Senado, o ex-governador de dois mandatos, Raimundo Colombo.
Desdobramentos
Todos derrotados. Gean em quarto lugar. Renunciou à Prefeitura em favor do vice, Topázio Silveira Neto, que ele escolheu para o segundo mandato, substituindo o vice do primeiro mandato, João Batista Nunes, e com quem depois rompeu, enciumado pela proximidade de Topázio com Jorginho Mello. E por Topázio não ceder às cobranças, ao assédio e às reivindicações de Gean Loureiro, que daí declarou apoio a Dário Berger.
Apoios e rompimentos
Veja só, com quem já tinha sido aliado, atendeu a Dário Berger como secretário nas suas duas gestões, e que depois distanciou-se, frequentando na sequencia vários partidos. Em compensação Berger em 2020 apoiou Ângela Amin contra Gean Loureiro, que se reelegeu no primeiro turno junto com Topázio Silveira Neto. E hoje Dário tem o apoio de Gean Loureiro e de Gelson Merisio, ex-deputado estadual, ex-presidente da Assembleia três vezes, candidato ao governo, derrotado por Carlos Moisés na onda bolsonarista de 2018.
Cenário
Gelson Merisio, que foi o grande arquiteto da chapa Décio Lima ao governo, com Dário ao Senado para oferecer palanque a Lula da Silva. Só que agora Décio está com Lela Farias, do PT, coligado com o PCdoB, com o PV e agora com o PSB. Já Dário com o PDT e União Brasil, duas candidaturas que se contrapõem a Topázio.
Influência
Em meio a isso tudo, Jorginho Mello nada de braçadas. Assumiu por inteiro a candidatura de Topázio e tem candidatos nas mais variadas cidades catarinenses, com reais perspectivas de êxito eleitoral.
Até o final da década de 1950, Santa Catarina contava com duas grandes lideranças que, por ironia do destino e da própria história, acabaram vitimadas no mesmo acidente aéreo: Nereu Ramos e Jorge Lacerda. Nereu Ramos foi indiscutivelmente um nome referencial na política catarinense durante o século passado.
:: Quer receber gratuitamente notícias por WhatsApp? Acesse aqui
Sexteto
Com o desaparecimento dessa dupla, à época com Jorge Lacerda exercendo o governo do Estado, Santa Catarina teve, em quase sete décadas, seis grandes lideranças políticas. Vamos a elas, de acordo com a sequência histórica: Celso Ramos, Colombo Machado Salles, Antônio Carlos Konder Reis, Jorge Konder Bornhausen, Esperidião Amin Helou Filho e Luiz Henrique da Silveira.
Três grandes políticos
Desses seis, três conseguiram conciliar a atuação administrativa com brilhantismo e uma longeva performance política, partidária e eleitoral: Konder Reis, Jorge Bornhausen e Esperidião Amin. Os dois primeiros eram primos e influenciaram a vida pública de Amin.
Visão
Foi Konder Reis, como governador, que nomeou Esperidião Amin prefeito de Florianópolis no início da segunda metade da década de 1970, com aprovação da Assembleia. Dali, Amin saiu para concorrer ao seu primeiro mandato eletivo, elegendo-se deputado federal em 1978 com 72 mil votos, a maior votação até então em uma eleição proporcional em Santa Catarina. No entanto, ele não assumiu o cargo na Câmara.
Nomeação
Jorge Bornhausen, que sucedeu Konder Reis no governo, nomeou Amin como secretário dos Transportes, uma das secretarias mais poderosas. Em vários momentos de seu governo, Bornhausen fez questão de projetar Amin mais do que a si próprio, apostando em seu nome para a candidatura ao governo em 1982, com o restabelecimento das eleições diretas. Amin elegeu-se governador, derrotando Jaison Barreto, enquanto Bornhausen tornou-se senador da República.
Retorno
Konder Reis voltou a exercer o governo na década de 1990, com a renúncia de Vilson Kleinubing, de quem era vice. Konder Reis exerceu vários mandatos de deputado estadual, federal, senador, e foi relator adjunto da última Constituinte.
Carreira
Jorge Bornhausen, além de governador, teve dois mandatos como senador e foi ministro de Estado em duas oportunidades. Esperidião Amin foi duas vezes governador, duas vezes prefeito (a última pelo voto popular), e exerceu quatro mandatos como deputado federal, estando atualmente em seu segundo mandato como senador.
Gancho
Faço essa retrospectiva justamente porque, nesta semana, acompanhamos a presença de Jorge Bornhausen, que completa 87 anos em 1º de outubro, na convenção homologatória do PSD de São José, que confirmou o nome de Orvino Dávila para concorrer novamente à Prefeitura da cidade. Bornhausen, que tem política na veia, estava presente pedindo pela reeleição de Orvino.
Homenagem
Fica aqui uma homenagem a Jorge Konder Bornhausen, que, embora não esteja mais no dia-a-dia da política, ainda é uma referência. Com a partida de Konder Reis, apenas Esperidião Amin ainda no exercício pleno da vida pública, com uma atuação notável no Senado. O legado dessas lideranças permanece vivo na história política de Santa Catarina.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.