Rodrigo Fortunato Goulart Filho é um quase médico e jogador de futebol
Um craque no futebol e nos estudos. Rodrigo Fortunato Goulart Filho, de 22 anos, é um exemplo para os meninos que se apaixonam pelo futebol, mas que contam com a ressalva de que o esporte não necessariamente irá garantir uma profissão.
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Ele está no décimo semestre e, unido ao esporte, consegue garantir uma remuneração para investir em livros, chuteiras e nos momentos de lazer.
Para ele, esse amor pelas quadras começou quase na tenra infância. Com cinco anos, Rodrigo iniciou os treinos na antiga escolinha do Dingo’s. Aos 11 anos, recebeu o primeiro convite profissional para jogar no Avaí. Depois vieram outros, mas a sua mãe, a professora Adriana Vicente Bressan Goulart, nunca permitiu que seu filho fosse morar em outra cidade, para não atrapalhar os estudos.
Mesmo com esse envolvimento com o futebol, Rodrigo afirma que sempre soube que queria estudar Medicina e sabia que para isso teria que se comprometer seriamente com os estudos.
Foi quando o tubaronense passou a lidar com o futebol como hobby. Concilia as atividades, de maneira que não atrapalhe sua dedicação pela faculdade, mas não vive sem jogar futebol.
“E também é uma maneira de garantir uma remuneração, já que o custeio da faculdade é feito pelos meus pais. É praticamente impossível trabalhar durante o curso. Temos que dar conta de muito conteúdo, bastante teoria e provas difíceis”, explica.
Jogadores mais jovens acham que Rodrigo é médico formado. “Às vezes, perguntam como consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo. As mães dos atletas mais novos, quando tenho contato, sempre ressaltam que sou um exemplo, para que seus filhos não abandonem os estudos”, revela.
O estudante lamenta que tem amigos que priorizaram a carreira e agora precisam correr atrás do tempo perdido, pois o futebol é uma caixinha de surpresas. “Nem sempre dá certo a carreira profissional”, ressalta Rodrigo.
Rodrigo está na fase prática do curso. E com isso, consegue perceber a união benéfica entre os esportes e a medicina. “Muitos tratamentos que acompanhamos nos postos de saúde, como por exemplo, o diabetes, são significativamente melhor sucedidos quando o paciente investe em exercício físico.
Um tratamento não medicamentoso, como falamos, dá bastante resultado com prática de atividades e dieta equilibrada. Tem bastante discrepância com quem fuma e tem hábito de beber álcool e não se exercita”, compara.
Rodrigo acredita que essa questão influenciou na escolha dele, que sempre busca ter uma vida focada na saúde – não consome nenhum tipo de bebida alcoólica.
O futebol exigia uma vida mais regrada, com dieta certinha, ao menos nos dias de semana. “Claro que às vezes eu também comia umas besteiras, alimentos não tão saudáveis. Todo adolescente e jovem gosta. Mas dia de semana eu seguia à risca os cuidados, priorizando sempre uma boa alimentação”, relembra.
A prevenção da boa saúde também repercute na escolha de atuação de Rodrigo. “Eu sempre me imaginei atuando como um médico da família. Quero fazer especialização em ginecologia, obstetrícia, algo nessa área que oportunize conhecer a paciente, seu histórico familiar e construir uma relação de cuidado que faz diferença para preservar o corpo e a mente”, revela.
Pressão x controle emociomal
A parte psicológica também foi outra questão que o esporte ajudou Rodrigo a saber lidar com o nervosismo e situações desafiadoras. “Em campo, estamos sempre sob muita pressão, em relação ao nosso desempenho, a expectativa das torcidas. O controle emocional é muito importante”, pondera.
De acordo com Rodrigo, o curso de Medicina impõe pressão, é difícil e exige muito estudo – além de não ser fácil conseguir notas boas. “Conseguir manter a tranquilidade para fazer uma prova faz muita diferença. E o sucesso, é como no futebol, quanto mais esforço, melhores serão os resultados”, assimila.
Conforme Rodrigo, muitas pessoas acham que o jogador de futebol vive o esporte como um lazer. “Se fosse tão fácil como falam 11 assistiriam e milhões jogariam. Tem muita gente que fala, mas não necessariamente se estivesse em quadra teria uma atuação melhor”, salienta.
Nesse aspecto também surge outra questão em que o esporte e a Medicina estão diretamente ligados, que é o convívio com outras pessoas. O gosto por lidar com pessoas veio dos pais. “Com certeza eles sempre foram espelhos para mim, pois sempre atuaram em funções que precisavam lidar com pessoas. E desde pequeno eu sempre tive facilidade de fazer amizades”, detalha.
Família
O pai de Rodrigo, Rodrigo Fortunato Goulart, trabalhou muito tempo com representação comercial – viajava constantemente – e, há cinco anos, é proprietário de uma lanchonete no Centro de Tubarão.
Seus avós paternos eram de Laguna e maternos de Pedras Grandes. Ambas as famílias vieram buscar melhores oportunidades em Tubarão. A mãe e o pai tiveram a primeira filha com 17 e 19 anos, respectivamente. A irmã de Rodrigo, Ingrid Bressan Goulart, hoje está com 34 anos, e possui formação em Educação Física.
“Mas, à época do colégio, não gostava, tinha que apresentar atestado médico para ser dispensada da disciplina. Depois mudou completamente e hoje vive para o esporte”, relata o pai.
A união da família e o estilo mais caseiro de Rodrigo já reverbera também em sua vida pessoal. Ele namora com outra estudante de Medicina, que está na quinta fase e que também adora cuidar da saúde, através de exercícios físicos, entre outros cuidados.
Respeito pelo próximo e por seus mestres
Seu ídolo sempre foi o craque argentino Lionel Messi. Mas, Rodrigo faz questão de lembrar que sempre valorizou seus treinadores, mesmo quando não se dava muito bem. “Sempre fui muito atencioso em relação às orientações dos professores e meu pais sempre passaram a importância do respeito ao próximo”, garante.
Na Medicina ele também vê um contraste entre a teoria fresquinha que o estudante tem, mas que não se compara à experiência que os médicos que já estão há muito tempo atuando adquiriram.
"Tem gente que pensa que médico de posto de saúde é ruim, mas eu não vejo assim. Pois é importante a parte de estar na ponta e cuidar das pessoas. Tem patologistas que só analisam células, ou médicos legistas que também não lidam com pessoas vivas. Isso não quer dizer que sejam melhores ou piores, todos têm seu valor”, considera.
Por fim, Rodrigo observa que a relação entre médico e paciente exige paciência, atenção, para que se alcance êxito no tratamento. “Saber a maneira certa de orientar cada paciente, faz muita diferença para que juntos consigamos o objetivo em comum, que é de recuperar ou preservar sua saúde”, finaliza.
*Matéria publicada na edição de março/abril de 2024 - Texto: Joyce Santos - Edição: Fabiano Bordignon - Revisão: Ronaldo Amorim Sant'Anna.