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“A verdadeira beleza está na inteligência"

Maria Volpato Filha completa 103 anos, com inteligência notável e saúde forte

Por Redação
24/05/2024 - 10h58.Atualizada em 24/05/2024 - 11h01
Natural de Braço do Norte, de uma família de 14 irmãos, sendo dez deles homens, Maria é atualmente a única ainda viva - Foto: Joyce Santos/Revista Única

É muito comum no mundo atual questionamentos sobre a constante busca pela harmonia perfeita da aparência. Para alguém que reúne lucidez, saúde e fé aos 103 anos, o conselho vai na contramão desse padrão. Para Maria Volpato Filha, nascida em 27 de maio de 1921, a verdadeira beleza está na inteligência.

Natural de Braço do Norte, de uma família de 14 irmãos, sendo dez deles homens, Maria é atualmente a única ainda viva. Ela nunca casou, não teve filhos, mas sempre admirou muito a dedicação aos estudos e ao trabalho.  "Todo mundo é capaz de estudar e alcançar seus sonhos. E trabalhar bastante", considera Maria ao detalhar sua trajetória de vida. 

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Ainda jovem sua família veio morar em Tubarão. Mesmo em uma cidade com mais oportunidades, Maria não se conteve em ampliar a busca por novos horizontes para sua capacidade de aprender e trabalhar. 

“Eu tive a chance de ir para Porto Alegre e não medi esforços para aproveitar tudo que essa experiência podia me proporcionar. Lá, eu estudei para ser instrumentista e trabalhei no Hospital Providência Portuguesa. Eu auxiliava a equipe médica no setor cirúrgico”, relembra. 

Era meados de 1950, quando Maria trabalhava na capital gaúcha e dividia o tempo para também poder se profissionalizar em costura. “Eu fazia o turno da manhã no hospital, à tarde eu ia para o Centro de Formação em Bordado e Costura da Singer e à noite ainda voltava para pagar as quatro horas que eu me ausentava da unidade hospitalar”, detalha. 

Maria se orgulha ao lembrar dessa época tão importante para sua vida. Quando ela se formou no Curso Profissional de Costura decidiu retornar para poder ficar próxima da família. Mas sua competência como auxiliar de enfermagem no hospital resultou em uma certa dificuldade para que conseguisse cumprir seu novo objetivo.

“Os diretores não entendiam como eu podia querer vir para Santa Catarina, achavam que aqui o povo não era tão trabalhador como lá. Isso porque nem sabiam que eu mesma era catarinense. Fiquei bem quieta e levei quase dois meses para conseguir deixar o meu trabalho no hospital”, diverte-se Maria ao recordar. 

De volta a Tubarão

De volta a Tubarão, Maria não perdeu tempo e começou a costurar para fora. Encontrou em sua irmã, Agatha, uma parceira para dar conta das encomendas que rapidamente foram tomando todo seu tempo. 

“Eu trabalhava muito. Fazia vestidos de festa que necessitavam de bastante dedicação, eram muitos detalhes. Lembro-me de uma vez eu me sentir cansada e resolver então por isto ir dormir, achando que era meia-noite. Ao olhar no relógio tomei um susto pois já eram seis da manhã do outro dia”, frisa. 

Para Maria, a formação foi bem importante, mas ela ressalta que com a prática ganhou ainda mais desenvoltura. “Eu conseguia desenvolver os modelos só de olhar para a cliente, não precisava nem tirar medida”, garante. Ela mora há muitos anos no Bairro Dehon, bem próximo à antiga Unisul – muitas professoras e alunas encomendavam vestidos para as formaturas com ela.

Atualmente, ela não costura mais. Mas, engana-se quem se antecipa ao pensar que isso se deve à idade avançada. “Eu fui atropelada há aproximadamente 12 anos. Saia do consultório de meu dentista quando fui atingida na calçada. O motorista estava com certeza com seu estado de consciência alterado e não parou para me socorrer. Por sorte, uma mulher que tinha uma lojinha ao lado acionou os bombeiros. No hospital fui encaminhada para cirurgias. Eu tinha ossos quebrados nas pernas e no meu braço esquerdo. No braço foi necessário utilizar três pinos para tentar reconstituir o osso”, conta. 

Nessa época, Maria ainda morava com sua irmã, que sofreu uma queda doméstica. “Ela gritou para que eu a ajudasse e então precisei dar o meu braço já machucado para conseguir levantar minha irmã do chão. Depois disso não consegui mais recuperá-lo, o osso ficou em três pedaços. Então não posso mais pegar peso e para costurar com apenas um braço ficou muito difícil”, lamenta. 

Mas ao analisar essas experiências difíceis e a vida que leva agora, na companhia de uma secretaria doméstica, Maria segue dando o exemplo de força e fé. 

“Eu assisto a missa todos os dias e agradeço sempre pela minha vida, pela minha história e por minha família. A fé, aliada a uma boa alimentação, é uma companhia inseparável que me faz viver feliz e em paz”, salienta. 

*Matéria publicada na edição de março/abril de 2024 - Texto: Joyce Santos - Edição: Fabiano Bordignon - Revisão: Ronaldo Amorim Sant'Anna.

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