Embora pareça um assunto contemporâneo, a restrição e controle de dispositivos eletrônicos em sala de aula, especialmente os celulares, é muito mais antiga do que parece.
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Entre tantas iniciativas, destaca-se a Lei nº 12.730/2007, do estado de São Paulo, que já proibia o uso de celulares nos estabelecimentos de ensino durante o horário de aula. Só para contextualizar, 2007 foi o ano do lançamento do primeiro iPhone, precursor dos smartphones modernos, enquanto o WhatsApp só seria lançado dois anos depois, em 2009.
Essa discussão ganha um novo capítulo agora, com a aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei nº 104/2015, que proíbe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis em salas de aula nos estabelecimentos de educação básica e superior em todo o Brasil.
Por que devemos restringir?
Não apenas os celulares, mas qualquer material não relacionado diretamente ao conteúdo em estudo é um potencial elemento de distração.
E, nesse quesito, os celulares são os campeões, pois funcionam como verdadeiros portais para o mundo exterior. Aplicativos de mensagens, redes sociais, jogos e até apostas online são, além de “mais interessantes” do que as aulas, altamente viciantes.
A dependência é tão forte que muitas pessoas desenvolvem ansiedade em saber o que está acontecendo fora do ambiente presencial, consultando o celular a todo instante - mesmo que seja apenas para confirmar que não receberam notificações. O estresse e o déficit de atenção estão entre as consequências mais comuns desse comportamento.
Nos cursos técnicos e de graduação, por exemplo, há alunos que nem lápis e caderno levam para as aulas, confiando apenas no celular para fotografar ou gravar as explicações. Isso, no entanto, negligencia o impacto positivo do ato de escrever, que estimula regiões únicas do cérebro, como a motricidade fina, a memória, a concentração e o processamento linguístico.
Além desses pontos, ainda podemos mencionar benefícios como a proteção da saúde mental, a melhoria no ambiente educacional e a redução do cyberbullying, entre outros.
O controle do celular será efetivo?
Por outro lado, como entusiasta da tecnologia no aprendizado, reconheço que restrições como essa também podem trazer prejuízos educacionais.
Elas limitam o acesso a informações atualizadas, a conteúdos que complementam os estudos e ao estímulo à curiosidade para pesquisar além do que está nos livros didáticos.
Contudo, é inegável que crianças, adolescentes e até muitos adultos (eu incluso) não possuem autocontrole suficiente para usar dispositivos de maneira responsável no contexto educacional. Isso justifica a necessidade de algum tipo de controle externo.
Ainda assim, não acredito que uma lei seja suficiente para conscientizar e controlar de forma eficaz. Antes mesmo dos celulares, estudantes já encontravam maneiras de se distrair, como revistas escondidas nos livros ou bilhetes passados entre colegas. A tecnologia, portanto, é apenas uma ferramenta, e o problema principal está no desinteresse pelo conteúdo apresentado.
Embora seja evidente que o uso descontrolado de dispositivos eletrônicos em sala de aula traz prejuízos significativos, uma proibição total não resolve o problema de base. A chave está em educar os alunos para o uso responsável da tecnologia, promovendo sua integração como uma aliada no aprendizado, e não apenas como uma fonte de distração.
Mais do que legislar, precisamos investir em práticas pedagógicas que tornem o conteúdo mais relevante e envolvente. Afinal, o celular não é o inimigo - a desmotivação para aprender, sim.
Educação & Tecnologia
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